O tabagismo é o hábito mais nocivo que uma pessoa pode adquirir ao longo da sua vida. O uso do cigarro influencia, praticamente, em todas as doenças do corpo humano, podendo afetar tratamentos médicos e até piorar o quadro clínico de doenças. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 428 pessoas morrem por dia no Brasil por conta de problemas relacionados ao tabaco.
A Organização Mundial da Saúde aponta que o fumo mata mais de 8 milhões de pessoas por ano em todo o mundo. Nesta conta entram diversos produtos que contêm tabaco em sua fórmula, como cigarros, charutos, cachimbos, narguilés e dispositivos eletrônicos para fumar.
A pessoa que fuma corre sérios riscos de sofrer com tuberculose, infecções e problemas respiratórios, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, enfisema pulmonar, osteoporose, até mesmo cataratas e infertilidade, tanto em homens como em mulheres. Além disso, entre os diversos malefícios causados pelo tabagismo estão os danos à saúde bucal.
Um estudo publicado no Journal of Dental Research indicou que homens com idade acima de 60 anos detêm 48% menos dentes que homens que não são fumantes. Já as mulheres acima dos 60 anos de idade têm 29% menos dentes do que aquelas que nunca fumaram.
Outro estudo recente publicado no Journal of Clinical Medicine mostra que pacientes que são fumantes crônicos têm três vezes mais chances de perderem um dente com tratamento endodôntico quando comparados a pacientes não-tabagistas. Inclusive, as lesões persistentes nos dentes com tratamento endodôntico também são mais frequentes em pessoas fumantes.
Esses dados mostram que o tabagismo tende a ser um fator negativo para o tratamento endodôntico, especialidade da Odontologia que visa tratar os canais radiculares, preservando a estrutura dental e evitando extrações.
Inclusive, pessoas que fazem uso de cigarro têm mais facilidade de desenvolver cárie, uma vez que o tabaco altera o pH bucal, favorecendo o surgimento da doença. A cárie, por sua vez, é um dos principais fatores infecciosos que acomete os dentes e leva ao tratamento de canal.
O ato de fumar afeta a mucosa e os tecidos periodontais que dão sustentação aos dentes, além de deteriorar a restauração coronária que é, por sua vez, muito importante para a segurança do tratamento endodôntico.
Doenças e infecções na gengiva também são comuns em pacientes fumantes, que têm duas vezes mais risco de desenvolver problemas do que os não fumantes. Inclusive, o tratamento nestes casos nem sempre tem o resultado satisfatório, pois o tabagismo pode dificultar o processo de cicatrização da gengiva.
Tabagismo e câncer
Outro risco grave para pessoas fumantes é o câncer bucal, uma vez que provoca mutação nas células sadias na boca. Um estudo da Universidade da Califórnia mostrou que a cada 10 pacientes com câncer bucal, oito eram fumantes.
A explicação para isso é simples. A cada inalada que a pessoa faz no cigarro, as substâncias químicas presentes no tabaco atingem primeiro a boca e a garganta e, depois, chegam aos pulmões. Ao longo de vários anos repetindo este processo, os riscos aumentam a cada tragada.
O câncer de boca é um tumor maligno que pode afetar lábios, gengivas, bochechas, céu da boca, língua e a região embaixo da língua. Entre os principais sintomas estão feridas, inchaços e caroços na região, além da perda de sensibilidade, dificuldade para mastigar ou engolir, dor sem razão aparente e alterações na voz.
A doença é mais frequente em homens a partir dos 40 anos de idade. De acordo com o Inca, no triênio compreendido de 2020 a 2022, há uma estimativa de 11.180 casos novos da doença em homens e 4.010 casos em mulheres para cada ano. As regiões Sudeste e Sul são as que apresentam as maiores taxas de incidência e de mortalidade da doença.
Infelizmente, a maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados, o que compromete a eficácia do tratamento e pode ser fatal. Se não for detectado de maneira precoce, o câncer bucal pode exigir tratamentos que vão da cirurgia à radioterapia ou quimioterapia.
O tabaco e seus efeitos na autoestima
O cigarro ainda pode impactar na autoestima da pessoa, uma vez que os componentes presentes nele afetam bastante a pigmentação dos dentes, que tendem a ficar mais amarelados com o tempo. O mau hálito também é outro fator desagradável que os pacientes fumantes precisam enfrentar.
A principal recomendação feita aos pacientes fumantes é reduzir o uso de cigarro e, com o tempo, abandonar de vez este hábito. Durante este processo, a indicação é reforçar a higiene bucal, aumentando o número de escovações diárias e incluir a limpeza da língua, uma das partes mais afetadas pelo cigarro.
O uso do fio dental e do enxaguante bucal também precisam ser incentivados, assim como as visitas regulares ao dentista. A consulta é importante para se realizar o monitoramento das mucosas, gengivas e dentes, averiguando o surgimento de lesões e sinais que possam indicar o surgimento de problemas graves que colocam a saúde bucal em risco.