Na Endodontia, o advento da incorporação da liga de NiTi nos instrumentos endodônticos revolucionou a prática clínica da especialidade. As principais características desse material são a sua superelasticidade e a sua memória de forma, que permite a utilização de instrumentos mais robustos mesmo em canais radiculares com maiores complexidades anatômicas.
Isso contribuiu muito para que o cirurgião-dentista pudesse fazer um maior preparo interno que não só atinge apenas as paredes dos canais, como também eleva a eficácia do condicionamento químico das soluções irrigadoras. Junto a isso, aderiu-se o uso destes instrumentos com acionamento a motor, o que adicionou rapidez, porém, trouxe alguns riscos. Todavia as novas peculiaridades dessa abordagem são previsíveis se forem contempladas e praticadas da forma correta.
Assim, a tecnologia abriu um novo campo de trabalho para o endodontista, dando a ele a oportunidade de incluir uma instrumentação mecanizada cada vez mais moderna, que traz não só conforto para o paciente durante o tratamento, tornando-o mais rápido e eficiente, como para o profissional durante o atendimento.
Nos aspectos evolutivos da endodontia encontra-se o desenvolvimento da instrumentação mecanizada baseada em dois tipos de movimentos: o rotatório e o reciprocante.
É muito comum ter dúvidas sobre qual desses métodos escolher na hora de realizar o tratamento endodôntico. No entanto, a resposta para esta pergunta é simples: as duas técnicas podem, e devem, ser utilizadas.
Contudo, é importante destacar que o rotatório e o reciprocante são formas de mecanizar o preparo endodôntico, girando continuamente a lima ou fazendo ciclos de ataque e recuo dentro do canal radicular.
O propósito e o tipo de movimento, assim como na segurança proporcionada pelas técnicas, têm muita utilidade no dia a dia de um consultório. O rotário apresenta uma rotação contínua em 360°, enquanto que o reciprocante é alternado e realiza um movimento oscilatório assimétrico. Sendo assim, o avanço em um sentido é maior do que no outro.
O movimento rotatório costuma ser mais eficaz em termos de velocidade de corte, uma vez que formata de maneira mais rápida. Por outro lado, por ser mais agressivo, tem menos segurança, o que é basicamente unânime na literatura. Com isso, o movimento reciprocante tem um ganho significativo neste quesito. O corte é mais demorado, visto que você precisa de alguns ciclos de ataque e recuo para promover uma volta de 360˚.
Quando usar as técnicas rotatória e reciprocante?
Nem todos os casos precisam ser tratados com a técnica reciprocante. Pode-se adotar a cinemática rotatória como regra em casos de menor complexidade anatômica e utilizar a cinemática reciprocante quando se diagnostica um caso de maiores obstáculos no preparo, como canais atrésicos, maiores graus curvaturas e/ou menores raios de curvatura.
O bom uso das diferentes cinemáticas tem ainda a vantagem de resultados mais previsíveis e favoráveis. Assim, vale seguir o seguinte raciocínio: use o rotatório quando puder e o reciprocante quando for necessário. A dicotomia absoluta entre as cinemáticas não deve existir. O clínico deve ter a consciência que pode usufruir do “melhor dos dois mundos”.
Atualmente, o mercado da Odontologia oferece infinitas opções de motores e de sistemas mecanizados. Pelo aumento significativo de resistência à fadiga cíclica, muitos sistemas reciprocantes são de instrumento único.
É de grande importância considerar, ainda, que independente dos instrumentos de escolha, deve-se sempre respeitar os fundamentos anatômicos do sistema de canais radiculares. Assim, cabe ao profissional entender a proposta de cada sistema de preparo e decidir qual deles se aplica melhor à sua metodologia de trabalho. De fato, o profissional que sabe usar a instrumentação mecanizada se diferencia.